Obs.: escrevi este texto como uma mensagem para um grupo específico de pessoas, mas depois percebi que faria sentido postá-lo aqui no blog.
Olá pessoal,
estou escrevendo esta mensagem a todo mundo que pediu para me adicionar no Facebook nos últimos tempos. Vocês talvez tenham se perguntado: “por que ele não aceitou?”; resposta curta: desculpe a gafe — e não, não teve a ver com você, mas sim com o Facebook. 🙂
Agora, a resposta longa (que alguns de vocês talvez já imaginassem, mas por via das dúvidas era legal explicitar). Eu usei o Facebook pela primeira vez por alguns meses entre 2009 e 2010, mas desisti em função do meu incômodo com a publicidade no site, e dos rumores (e algumas notícias) que pipocavam, à época, sobre o descaso da empresa em relação à nossa privacidade. A reflexão sobre essa experiência foi uma das coisas que me levaram a escolher a publicidade comportamental, que Facebook e Google usam, como um caso para pesquisar na minha tese de doutorado, nos anos seguintes. (Em linhas gerais, a conclusão da minha análise foi que, além das violações “individuais” de privacidade, esse tipo de publicidade gera um problema social: a assimetria entre essas empresas e seus usuários tem o potencial de fomentar um aumento crescente do consumismo e/ou crises econômicas significativas.)
Recentemente, quando eu entrei na UFABC, dei-me conta de que precisava estar no Facebook para ajudar a administrar a página do NTE (o núcleo ao qual minha vaga foi atrelada). A situação é diferente quando leciono sozinho uma disciplina; mas enquanto membro do NTE (onde a comunicação é a minha principal responsabilidade), pensei que é importante respeitar a escolha de tantas pessoas da comunidade da UFABC — muitas das quais usam o Facebook como sua principal ferramenta de comunicação —, e que, mesmo que eu tivesse reservas com a plataforma, não fazia sentido colocar minha escolha individual sobre ela radicalmente acima das minhas responsabilidades na instituição.
Decidi aproveitar a oportunidade para avaliar novamente minha posição pessoal sobre o Facebook; cogitei que talvez não fosse razoável eu me recusar a usá-lo, considerando o caráter do meu trabalho como professor e servidor público (que demanda debate, publicização), ou mesmo o meu próprio desejo de manter contato com amigos e socializar; talvez fosse um trade-off necessário.
Cheguei a adicionar dois amigos, mas em pouco tempo voltei atrás (em relação a esse uso pessoal). Não nego as possibilidades que o Facebook oferece, mas ainda existem na rede muitas outras formas de participar de debate público e dialogar com meus pares e amigos (e-mail, Twitter, Mastodon, blogs…). Elas também não são perfeitas, é claro (e até por isso migrei do Gmail, e ainda penso em levar este blog para um servidor próprio…) — mas na minha impressão, o Facebook é particularmente ruim: não só ele continua baseando seu negócio na violação da nossa privacidade de todas as maneiras possíveis (essa matéria recente faz um bom apanhado), como passou a ter cada vez mais potencial de fazer estrago (vide a nascente carreira política de nosso grande irmãozinho Zuckerberg).
Enfim, foi apenas por isso que não te adicionei; mas recentemente notei que posso ter passado uma impressão errada — de desdém, ou algo do gênero — ao fazê-lo de forma silenciosa. Não era minha intenção. Pretendo continuar usando o Facebook para lidar com a página do NTE, mas te convido a conversar comigo por e-mail (se você não tem o endereço, pode me escrever por aqui), ou por outras ferramentas em que também disponibilizo meus trabalhos e escrevo sobre variedades: meu blog, e minhas contas no Twitter (@miguelsvieira) e Mastodon (miguelsvieira@ecodigital.social). Se puder, mande-me também seus avisos de eventos, convites etc. por essas ferramentas: será um prazer recebê-los.
Um abraço,
Miguel
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